Já beiravam oito horas da manhã na Rodovia Manoel Urbano (AM070), quando não se ouvia mais do que os sussurros dos animais da grande floresta que cerca parte do asfalto quente as poucas casas que preenchem a localidade que dá acesso aos municípios de Iranduba, Novo Ayrão e Manacapuru, logo após ponte rio Negro.
Dentro dos ônibus interestaduais, olhares assustados de pessoas que não sabem explicar como será o dia de amanhã, o equilíbrio da saúde e a incerteza sobre a economia do Brasil. São olhos que choram, sem que se veja nenhuma lágrima, pois ela está jorrando dentro das almas de cada amazonense – lágrimas que vem do coração.
Logo ali, dentro do ônibus, está a dona de casa Deuzuite Costa Coelho, sentada olhando para os topos das árvores. Com 72 anos e uma vida dedicada à família, a pequena amazonense usava uma máscara para se proteger do coronavírus, doença que assusta o mundo e nossa capital, que já conta mais de 80 infectados. O objeto foi confeccionado em casa, com uma produção de pouco mais de 15 unidades, inicialmente para se proteger, mas também entregou algumas unidades a amigos e parentes.
Enquanto conversava comigo na cadeira do coletivo, Dona Deuzuite abriu a bolsa e puxou uma máscara caseira, dando a impressão de que estava me oferecendo ou quem sabe, mostrando o trabalho feito com tanto amor pelas mãos cheias de marcas dos anos de vida e experiência, e com os olhos marejados disse-me que pretende fazer outras, para doar a amigos.
Em tempos de corona, ser humano de verdade tornou-se uma tarefa bastante difícil, onde cada um precisa buscar dentro de si, a essência, onde nela se explica o que fazer consigo e também para que o próximo sofra menos, além daqueles pessoas que estão em nossas casas. Em tempos de corona, é necessário esquecer o egoísmo e saber “dividir o pão”, para que os mais necessitados não passem fome.
Em tempos de corona, é preciso aprender a se readaptar, trabalhar, reorganizar a vida, para que os trabalhos possam continuar e a prosseguir nossas vidas. Em tempos de corona é preciso que sejamos mais vida, mais amor e, principalmente, tenhamos fé de que amanhã tudo pode mudar, melhorar e que possamos voltar a ter dias melhores pra sempre, sem um vírus chato a nos perturbar.
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